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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Crisálida/ por O.Heinze






fotografia de O.Heinze 
Resedás em meu quintal









Todas as noites
uma força chamada sono
me envolve e me desfalece.
E indefeso, sinto-me numa metamorfose
ficando alheio à tudo deste mundo.
E dentro deste tipo de crisálida
viajo para tantos lugares
a uma velocidade inimaginável.
Encontro pessoas e bichos;
mar, rio, neve, fogo;
caminhos improváveis, espaço;
morro sem morrer, choro;
vivo sem viver, gargalho...
Igual se fosse um lepidóptero, voo
ou sem um chão, despenco em abismo.
Num sobressalto, meio aqui, meio lá
caio em meu leito assustado...
Depois de um tempo volto a sonhar
ou ter pesadelos dos mais bizarros.
Pela manhã desperto neste mundo
vou me desamarrotando lentamente
mas não sendo contemplado
sigo assim: humano sem asas...
Visto uma cor própria para o dia.
São raras as flores em meu caminho
na maior parte, ervas daninhas
sem perfume, cor, simpatia.
Pobre jardim miserável este
tanta Terra e tão pouca doçura.
Por isso é raro uma borboleta
pousar em um ser humano:
nos falta iluminar a aura
desabrochar livremente
se doar por amor
e despetalar feliz...